segunda-feira, 29 de março de 2021

Se

 

Se és capaz de manter a tua calma quando        
Todo o mundo em redor já perdeu e te culpa;        
De crer em ti quando estão todos duvidando        
E para esses, no entanto, achas uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,       
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,       
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares;       
E não parecer bom demais, nem pretensioso;        

Se és capaz de pensar - sem que a isto só te atires,       
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;       
Se encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires       
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;        

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas       
Em armadilhas as verdades que disseste,       
E as coisas por que deste a vida estraçalhadas,       
E refazê-las com o bem pouco que te reste;        

Se és capaz de arriscar numa única parada       
Tudo que ganhaste em toda a tua vida,       
E perder, e ao perder, sem nunca dizer nada,       
Resignado, tornar ao ponto de partida;       

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,       
E dar seja o que for que neles ainda existe,       
E a persistir assim quando exausto, contudo       
Resta a vontade em ti que te ordena: Persiste!

Se és capaz de entre a plebe não te corromperes,
E entre reis não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade;

E se és capaz de dar segundo por segundo,
Ao minuto fatal, todo teu valor e brilho,
Tua é Terra com tudo que existe no mundo,
E - o que ainda é muito mais -  És um Homem, meu filho !

Rudyard Kipling - Tradução: Guilherme de Almeida



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